As 7 leis da propaganda política
A cada ciclo eleitoral, novas tecnologias prometem revolucionar as campanhas. Às vezes, mudam o jogo. Em outros momentos, são apenas cortina de fumaça. Cabe a políticos e comunicadores, portanto, a capacidade de atualização e uma contínua alfabetização digital para acompanhar a velocidade desta época.
No entanto, outro poder relevante — e talvez ainda mais difícil do que acelerar o passo — é compreender o que não mudou.
Este é o efeito do clássico "A Propaganda Política", de Jean-Marie Domenach. Escrita em 1950, a obra descreve leis que são, até hoje, um manual de instruções da comunicação política. Naturalmente, elas exigem atualizações, já que a análise original se baseou na lógica da comunicação de massa do século 20. Mas a assertividade é impressionante.
Com a corrida para 2026 no horizonte, a competitividade de uma campanha dependerá, sim, do domínio dessas regras atemporais. A seguir, as apresentamos, conectando os conceitos originais de Domenach a aplicações no cenário atual.
1. Desperte Emoções, a Lei da Transfusão
Domenach afirma que não se deve contradizer frontalmente uma multidão. É preciso primeiro declarar-se de acordo com ela para depois conduzi-la. Esta é a Lei da Transfusão: a propaganda não cria sentimentos do nada, ela se conecta a um sistema pré-existente de mitos, preconceitos e valores do público.
A mensagem explora os amores, ódios e desejos inerentes à alma do povo, para que as pessoas enxerguem ali o que, conscientemente ou não, já acreditam.
2. Mensagem com clareza, a Lei da Simplificação
Toda propaganda eficaz exige um esforço de síntese. Na Lei da Simplificação, Domenach explica como slogans, símbolos, frases de efeito e jingles reduzem ideias complexas a fórmulas memoráveis e potentes. Os exemplos são históricos e atuais: do clássico da propaganda marxista-leninista "Paz, Terra e Pão" ao potente "Make America Great Again", de Donald Trump.
Mas não se esqueça: só há valor quando o simbolismo representa um frame que mexe com as questões morais e emotivas do eleitor.
3. Defina sua Luta, a Lei do Inimigo Único
Complementando a simplificação, a Lei do Inimigo Único pressupõe a flecha em um só alvo de cada vez. A lógica é simples: muita informação, pouca lembrança. Como o marqueteiro Marcelo Vitorino costuma dizer, se as pessoas mal lembram os Dez Mandamentos, imagine inúmeras propostas de um candidato?
Em 2026, veremos essa tática ao se eleger uma grande causa (a luta contra a violência, a taxação dos super-ricos) ou um adversário principal a ser desconstruído.
4. Realidade com significado, a Lei da Amplificação e da Desfiguração
A propaganda raramente comunica fatos brutos; ela os apresenta já carregados de um potencial de significado. A Lei da Amplificação e da Desfiguração consiste em enquadrar um assunto, bem como explorar e dar relevância a esse recorte específico. Hoje, memes e seleção de falas em vídeos são ferramentas para amplificar uma narrativa e potencializar um ponto de vista.
5. Repita. Repita. Repita. A Lei da Orquestração
A primeira condição para uma boa propaganda é a repetição infatigável. A Lei da Orquestração consiste em insistir no tema central, bem como apresentá-lo sob diversos aspectos e em diferentes formatos, adaptados para cada público, episódio e canais de contato: debates, redes sociais, comícios, propaganda de rua.
6. Desconstrua o Adversário, a Lei da Contrapropaganda
Para que uma narrativa prevaleça, é preciso neutralizar a do oponente. A contrapropaganda é a arte de ressignificar fatos e enquadrar o descompasso do adversário. Não se trata de ofender ou destilar ataques pessoas, mas de desconstruir discursos com estratégia e dentro das linhas democráticas.
7. Contagie, a Lei da Unanimidade e do Contágio
A propaganda trabalha para reforçar ou mesmo criar uma percepção de unanimidade - neste século XXI, é claro, considerando as diversas segmentações e comunidades que devem ser mapeadas pelos profisisonais de marketing político.
A Lei da Unanimidade e do Contágio usa símbolos, bandeiras, uniformes, músicas e "personalidades-piloto" (hoje, os influenciadores) para criar um clima de força e pertencimento. A ideia é manifestar a onipresença dos adeptos, dando a impressão de que todos pensam da mesma forma.