O banquete do Master e o ruído da corrupção
Imagem gerada com o Nano Banana, ferramenta do Gemini
Não tem jeito: o caso do Banco Master é um banquete com o que há de mais perverso no universo de poder brasileiro.
Uma instituição financeira comandada por um playboy criou uma teia turbinada de cifrões e falcatruas diversas, de modo a render políticos, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), a cobertura jornalística da grande imprensa e o debate público no ambiente digital.
Como resultado, um constrangimento sem fim temperado com impunidade, desigualdade, crueldade e o cansaço de constatar, mais uma vez, que o Brasil é feito para POUQUÍSSÍMOS.
Vamos aos ingredientes secretos.
O episódio corrobora com a tese do sociólogo Jessé Souza, gostem dele ou não, no livro "Elite do Atraso". Para ele, os super-ricos vampirizam a nação, transformando políticos e outras figuras públicas em meros "aviõzinhos" da corrupção.
Jessé argumenta que a corrupção como a enxergamos - intrínseca à política e ao "jeitinho brasileiro" - é uma farsa. Um culturalismo enraizado por autores como Sérgio Buarque de Holanda que cumpre apenas uma função ilusionista.
"Essas ideias do Estado e da política corrupta servem para que se repassem, a baixo custo, empresas estatais e nossas riquezas do subsolo para nacionais e estrangeiros que se apropriam privadamente da riqueza que deveria ser de todos. Essa é a corrupção real. Uma corrupção legitimada e tornada invisível por uma leitura distorcida e superficial de como a sociedade e seus mecanismos de poder funcionam", escreve o sociólogo.
Difícil contrapor tal argumento com o desenrolar do caso Master, embora eu não considere razoável normalizar práticas corruptas para qualquer pessoa, principalmente aquela que tenha certo privilégio, bilionária ou não.
Mas o fato é que o ruído está instalado, sob a névoa irascível das linhas digitais ilimitadas e sem pudor.
Até a esquerda bolsonarista atacou
É "eita" atrás de "eita", como dizem. Segue o fio da história:
O empresário playboy, ao ser preso, deu um chilique com os advogados e foi para casa poucos dias depois.
O ministro Dias Toffoli, relator do caso do Banco Master no Supremo, viajou para assistir à final da Libertadores em Lima, no Peru, no mesmo voo particular de um advogado que defende interesses da instituição financeira.
O mesmo Toffoli convocou uma audiência de acareação entre o dono do Master, Daniel Vorcaro, o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB) Paulo Henrique Costa e o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino, na contramão do que pediu a Procuradoria-Geral da República.
Vamos relembrar: em meio à crise de liquidez, o Master procurou o BRB para conseguir ampliar sua capitalização. O banco estatal desembolsou R$ 12,2 bilhões adquirindo ativos do Master desde meados de 2024. Quando o BRB tentou conseguir a aprovação do Banco Central para comprar o Master, documentos enviados à autoridade monetária levantaram a suspeita de que os R$ 12,2 bilhões poderiam estar envoltos em fraude.
A jornalista Malu Gaspar, por sua vez, revelou que o escritório de Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro do STF Alexandre de Moraes, tem um contrato de prestação de serviços com o Master que previa o pagamento de R$ 3,6 milhões mensais (prestem atenção no valor) durante três anos.
E então semeou definitivamente a discórdia digital ao escrever que "Xandão" procurou Galípolo para fazer pressão em favor do Banco Master. Na conversa, relatou Malu ao ouvir suas "famosas" seis fontes, Moraes teria defendido Vorcaro e pedido que o BC aprovasse a compra pelo BRB.
A jornalista tem sido cobrada. Moraes e Galípolo negaram o teor da conversa, e há uma leva considerável de analistas e internautas questionando as tais seis fontes que falaram a Malu em off.
Parte da militância de esquerda, em vez de focar nos acordos espúrios dos super-ricos com o poder - dos quais os donos da grande imprensa fazem parte -, passou a fazer ataques agressivos e machistas a Malu Gaspar.
A meta? Defender o "herói" Alexandre de Moraes, o grande salvador da democracia, indicado por Michel Temer ao Supremo e membro da minoria elitizada no Brasil, cuja esposa fechou um contrato milionário com o liquidado Banco Master. Rsrs (não resisti à informalidade).
É o que chamo de esquerda bolsonarista. Uma turma que tem fetiche pelo extremismo e age com a mesma ferocidade diante do espelho.
E a direita moralista?
Silêncio calculado, claro. Até onde vai a teia do Master? Onde estão os vídeos histriônicos de Nikolas Ferreira (observação pertinente feita pelo influencer Jones Manoel)? Onde está a fúria da direita "anti-sistema" contra o uso de jatinhos e a promiscuidade?
Pense no poder de mobilização da direita brasileira nos últimos anos. Qual seria o tamanho do esforço para atacar Alexandre de Moraes numa situação normal?
Enquanto o ruído persiste, os donos do poder continuam assaltando o Brasil em benefício próprio. E depois vão alinhar o futuro dos negócios no Gilmarpalooza, na Europa.